A fertilidade das mulheres acontece de forma cíclica, ou seja, uma série de acontecimentos bioquímicos mediados pela atividade dos hormônios sexuais ocorrem sequencialmente, provocando modificações celulares importantes que permitem à mulher engravidar.
No entanto, a gravidez não acontece em qualquer período do ciclo, já que a mulher fica realmente fértil apenas por alguns dias, normalmente próximos à metade do ciclo que começa com a chegada da menstruação.
O cálculo do período fértil deve considerar também uma variável importante, mas relativa à capacidade reprodutiva masculina: o tempo de sobrevivência do espermatozoide no interior do corpo da mulher.
Alguns aspectos do sêmen podem ajudar a prolongar a sobrevivência espermática, como o pH dos líquidos glandulares que é mais alcalino e por isso protege as células reprodutivas masculinas do ambiente naturalmente ácido do canal vaginal.
Este texto explica detalhadamente sobre o que é o período fértil e como seu cálculo pode ser utilizado para potencializar as chances de gravidez dos casais tentantes. Boa leitura!
As modificações hormonais e celulares que caracterizam o ciclo reprodutivo são organizadas em fases para uma melhor compreensão dos processos envolvidos, embora biologicamente esses eventos aconteçam de forma fluida.
Nesse sentido, convencionou-se que a chegada do sangue menstrual, no primeiro dia da menstruação, é o marco inicial de cada ciclo.
As duas estruturas que mais se modificam durante esse processo são os ovários, que armazenam a reserva ovariana e sediam a ovulação, e o útero, que se prepara para receber um possível embrião a cada ciclo.
A fase inicial do ciclo reprodutivo é chamada folicular porque um dos eventos centrais dessa etapa é o recrutamento dos folículos ovarianos, contendo um óvulo cada, para a ovulação. Embora muitos folículos sejam recrutados, na maioria das vezes somente um consegue chegar ao auge do desenvolvimento e participar da ovulação.
Esse processo é mediado principalmente pelas gonadotrofinas FSH (hormônio folículo-estimulante) e LH (hormônio luteinizante), secretadas pela hipófise e que interagem com as células foliculares para a produção de um terceiro hormônio, o estrogênio.
No início da menstruação, os níveis de estrogênio e progesterona são mínimos e isso desencadeia a retomada na produção de GnRH (hormônio liberador de gonadotrofinas), que estimula a hipófise.
Ao longo da fase folicular, a concentração das gonadotrofinas e do estrogênio aumenta gradativamente para viabilizar a ovulação e para reiniciar o preparo endometrial. Nesse sentido, o estrogênio é o principal hormônio do preparo endometrial na fase folicular e sua atividade leva ao espessamento do endométrio.
Após a ovulação, a dinâmica hormonal do ciclo reprodutivo se altera, principalmente com a formação do corpo lúteo, que inclusive dá nome a essa etapa, e o início da produção de progesterona.
O corpo lúteo responde principalmente à ação do LH, que mantém essa estrutura ativa por alguns dias depois que a ovulação ocorreu, levando a um aumento na concentração da progesterona.
Nos primeiros dias após a ovulação, os hormônios sexuais mais abundantes são o estrogênio e a progesterona. As altas taxas desses hormônios finalizam o preparo endometrial iniciado na fase folicular, assim como modifica a produção de GnRH e consequentemente de FSH e LH, impedindo que uma nova ovulação aconteça em um mesmo ciclo reprodutivo.
Com a diminuição do LH o corpo lúteo degenera, interrompendo a produção de progesterona. Nesse momento ocorre a finalização do preparo endometrial com o consumo da maior parte de estrogênio e progesterona circulantes.
Ao final da fase lútea, a queda na concentração de estrogênio e progesterona leva à descamação do endométrio excedente, produzido pelo preparo endometrial, que é expulso do corpo como sangue menstrual.
O evento que estabelece a fronteira entre a fase folicular e a fase lútea é a ovulação.
Para que a ovulação aconteça, as gonadotrofinas e o estrogênio devem atingir um pico máximo de concentração simultaneamente, provocando o rompimento do folículo dominante e a liberação do óvulo, já maduro, contido em seu interior.
Enquanto as células foliculares que restam aderidas ao ovário formam o corpo lúteo, iniciando a segunda fase do ciclo, o óvulo é direcionado para o interior das tubas uterinas, pelas fímbrias, e fica disponível para ser fecundado por 24h.
Portanto, em um ciclo considerado normal, que dura em média 28 dias, a ovulação acontece por volta do 14º dia após a chegada do sangue menstrual, caracterizando esse momento como o centro do período fértil.
Como mencionamos, o cálculo do período fértil deve incluir uma variável masculina: o tempo de sobrevivência dos espermatozoides no interior do corpo da mulher, que é de aproximadamente 3 dias.
Ou seja, mesmo que o casal mantenha relações sexuais sem preservativos até três dias antes da ovulação, é possível que esses espermatozoides estejam ainda vivos nas tubas quando a liberação do óvulo acontecer e a fecundação pode ocorrer.
Assim, podemos dizer que o período mais fértil da mulher que apresenta um ciclo reprodutivo de 28 dias, vai do 11º ao 15º dias após a chegada do sangue menstrual.
O cálculo do período fértil pode potencializar as chances de que uma gravidez aconteça, porém não garante a fecundação, especialmente porque a maior parte das mulheres não apresenta sempre ciclos de 28 dias.
A irregularidade dos ciclos menstruais não necessariamente está ligada a qualquer distúrbio reprodutivo e é, na realidade, mais comum do que a predominância de ciclos regulares.
Nesse sentido, pelos mesmos motivos que o cálculo do período fértil não garante a gravidez, também pode se mostrar falho se for utilizado para evita-la, especialmente quando é o único método contraceptivo adotado pelo casal.
Geralmente, o casal sem problemas relacionados à infertilidade conjugal tem aproximadamente 20% de chance de engravidar mantendo relações sexuais durante o período fértil a cada ciclo reprodutivo.
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