Mesmo sendo uma tendência da atualidade, cada vez mais procurada pelas mulheres que desejam protelar a maternidade com mais segurança, o congelamento de óvulos ainda é motivo de dúvidas para muitas mulheres.
Atualmente, as mudanças sociais que aumentam a participação da mulher no mercado de trabalho e na sociedade como um todo, têm levado muitas mulheres a querer viver a maternidade mais tarde.
Essa realidade associada ao fato de a fertilidade feminina estar restrita ao período entre a puberdade e a menopausa, é o principal motivo pelo qual cada vez mais mulheres têm optado pelo congelamento de óvulos.
Neste texto você vai conhecer melhor o congelamento de óvulos e entender os detalhes da fertilidade feminina que mostram quando é o melhor momento para preservar a fertilidade.
Boa leitura!
Para que a fecundação aconteça – e assim o surgimento de uma nova vida – é necessário que haja a fusão completa de uma célula reprodutiva feminina e uma célula reprodutiva masculina. Chamamos óvulos aos gametas femininos e espermatozoides aos masculinos.
Embora essas células sejam semelhantes em diversos aspectos (como a quantidade de DNA que carregam), muitas são as diferenças que separam óvulos e espermatozoides.
Os óvulos permanecem nos ovários de forma individualizada, envoltos por uma estrutura multicelular que chamamos folículo ovariano. Cada folículo é formado por dois tipos celulares – as células da teca e as células da granulosa – organizadas em camadas como uma cápsula e que interagem com os hormônios sexuais do ciclo reprodutivo.
Essa interação hormonal com as células do folículo ovariano desencadeia todos os processos do ciclo reprodutivo, do recrutamento dos folículos para ovulação ao preparo do endométrio para receber um possível embrião.
Nesse sentido, os espermatozoides são células que não estão envoltas em outras estruturas e a atividade da testosterona sobre a espermatogênese é mediada por células dos próprios testículos.
O momento de formação das células reprodutivas femininas e masculinas é outra diferença entre essas células: os espermatozoides são produzidos continuamente e durante praticamente toda a vida do homem, mas somente após a puberdade e os óvulos são todos produzidos antes do nascimento da mulher, armazenados nos ovários até a menopausa.
Esse estoque limitado de células reprodutivas femininas é chamado reserva ovariana e, após a puberdade, é consumido sistematicamente a cada ciclo reprodutivo pelos processos que envolvem a ovulação. Na menopausa, a reserva ovariana se esgota e a mulher deixa de ser fértil naturalmente.
Na dinâmica hormonal dos ciclos reprodutivos, dois hormônios produzidos pela hipófise são centrais na interação com as células foliculares, que contém os óvulos: as gonadotrofinas FSH (hormônio folículo estimulante) e LH (hormônio luteinizante).
Antes da puberdade, as gonadotrofinas são produzidas em taxas muito baixas e interagem com poucas células foliculares, para manutenção dos níveis mínimos de alguns hormônios, como os estrogênios.
Com a chegada da puberdade, um dos principais papéis das gonadotrofinas é desempenhado na primeira fase do ciclo menstrual, quando as gonadotrofinas recrutam uma grande quantidade de folículos ovarianos para que cresçam e se desenvolvam, com objetivo de participar da ovulação.
Contudo, embora o recrutamento de folículos ovarianos e óvulos seja massivo, apenas um folículo consegue finalizar o processo de crescimento (folículo dominante), enquanto os demais regridem e tornam-se atrésicos. O folículo dominante já maduro se rompe na ovulação, quando a fecundação pode acontecer.
Essa dinâmica faz a reserva ovariana diminuir de forma sempre constante, desde o nascimento, mas de forma muito mais intensa com a chegada da puberdade. Entre a puberdade e a menopausa, que acontece normalmente por volta da 5ª década de vida da mulher, toda a reserva ovariana é consumida e a mulher não pode mais ter filhos.
Além de ser um estoque finito, a qualidade genética da reserva ovariana também decai com a proximidade da menopausa, aumentando a chance de perdas gestacionais e do nascimento de bebês com problemas genéticos, como a síndrome de Down.
O congelamento de óvulos é uma tecnologia desenvolvida em associação com a reprodução assistida, que possibilita a coleta de células reprodutivas femininas e sua conservação e armazenamento por tempo ilimitado.
Para isso, as células reprodutivas passam pelo processo de vitrificação, uma técnica de congelamento rápido em nitrogênio líquido, que preserva as funções celulares com chances bem reduzidas de formação de cristais, que podem danificar as células preservadas.
Os óvulos são coletados por aspiração folicular, após a estimulação ovariana, e armazenados em recipientes contendo um meio nutritivo e protetivo, fundamental para a conservação desse material em baixíssimas temperaturas.
Os óvulos criopreservados por vitrificação, assim como o sêmen e os embriões que também podem ser criopreservados, são conservados por tempo ilimitado e podem ser utilizados logo após seu descongelamento, em qualquer momento.
O congelamento de óvulos pode ser feito por qualquer mulher que deseja adiar a maternidade com mais segurança, evitando as possibilidades de encontrar dificuldade para engravidar com mais idade e diminuindo as chances de problemas genéticos nos bebês.
Contudo, aconselha-se que a coleta de óvulos para congelamento seja feita antes dos 35 anos, quando a reserva ovariana começa a se degradar mais intensamente.
Além disso, as mulheres que realizam o congelamento de óvulos podem utilizar suas células reprodutivas para ter filhos até os 50 anos. Após esse período, a dinâmica dos hormônios sexuais mostra-se reduzida em função da menopausa, o que pode comprometer a gestação.
O congelamento de óvulos também é indicado para mulheres que recebem um diagnóstico de câncer e precisam passar pelos tratamentos de quimioterapia e radioterapia, que oferecem alto potencial de dano à reserva ovariana.
Atualmente, a preservação oncológica da fertilidade é uma ferramenta no enfrentamento do câncer e suas consequências, melhorando as perspectivas da vida após a cura da doença, cada vez mais comum hoje.
É importante lembrar que o congelamento de óvulos é parte das técnicas de reprodução assistida, mais especificamente da FIV (fertilização in vitro), ou seja, a mulher que opta pela preservação da fertilidade com o congelamento de óvulos só pode engravidar utilizando esse material na FIV.
Para coletar as células reprodutivas femininas que serão congeladas, a mulher passa pela estimulação ovariana e indução da ovulação de forma semelhante aos tratamentos tradicionais com a FIV. Nesta etapa, a mulher recebe doses diárias de uma medicação hormonal para induzir o recrutamento e crescimento de um grande número de folículos.
Esse processo é monitorado por ultrassonografia pélvica transvaginal, que indica o momento ideal para induzir a ovulação e coletar os óvulos, por aspiração folicular – um procedimento simples, em que uma agulha é introduzida por via transvaginal até os ovários, puncionando os folículos que contêm os óvulos.
Esse material é então encaminhado para o congelamento e fica armazenado até que a mulher manifeste desejo de engravidar.
Neste momento, os óvulos são descongelados e o sêmen do parceiro é coletado, para que a fecundação seja feita em laboratório. Os embriões obtidos são então observados no cultivo embrionário e transferidos para o útero, que precisa estar receptivo.
Leia mais sobre o congelamento de óvulos tocando neste link.
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