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Aborto de repetição

Aborto de repetição

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Uma boa parte de todas as gestações resulta em aborto espontâneo e nem sempre a mulher percebe que estava grávida. No entanto, quando a perda se torna recorrente, o aborto é classificado como de repetição e pode comprometer a fertilidade feminina.

Duas ou mais perdas consecutivas antes da 22ª semana de gestação definem o aborto de repetição. No entanto, a gravidez deve ter sido reconhecida clinicamente por meio de exames como o beta hCG quantitativo, que define a quantidade do hormônio gonadotrofina coriônica produzido quando a mulher está grávida, e/ou a ultrassonografia transvaginal, por exemplo.

Embora o termo aborto seja frequentemente utilizado para definir a gravidez perdida e o uso seja correto, clinicamente o termo é abortamento, sendo aborto o produto da concepção eliminado no abortamento.

Este texto explica o aborto de repetição. Destaca as causas, sintomas que alertam para a necessidade de procurar auxílio médico, diagnóstico e tratamentos.

Quais são os sintomas de aborto de repetição?

Mulheres em idade reprodutiva, principalmente quando estão tentando engravidar, devem ficar atentas a alguns sintomas que sugerem a possibilidade de aborto, independentemente de a gravidez ter sido comprovada clinicamente.

As chances de o aborto tornar-se de repetição aumentam bastante quando há perdas anteriores, assim como, a cada perda, as de gravidez diminuem. O principal sintoma é sangramento em tom amarronzado ou vermelho-vivo, que inicia de forma intensa ou aumenta em intensidade progressivamente. Outros sintomas são:

  • Cólicas severas que não diminuem mesmo após o uso de medicamentos;
  • Expulsão de tecido com coágulo;
  • Diminuição repentina dos sinais de gravidez;
  • Secreção de muco branco-rosa;
  • Perda de peso repentina.

É importante consultar um especialista se os sintomas repetirem por mais de dois meses consecutivos.

Quais são as causas de aborto de repetição?

O aborto de repetição não tem uma única etiologia. Estudos sugerem possíveis causas para a perda de gravidez, como genética, alterações hormonais e uterinas, problemas de coagulação, infecções e doenças autoimunes. Veja as principais:

Genética: uma das principais são anormalidades cromossômicas no embrião, como as numéricas, caracterizadas por mais, ou menos, cromossomos que o correto. Elas são frequentes em embriões formados por gametas de pais mais velhos, uma vez que óvulos e espermatozoides perdem em qualidade com o envelhecimento, ou podem resultar de erros na divisão celular.

As anormalidades cromossômicas numéricas são conhecidas como aneuploidia e, da mesma forma que podem causar aborto de repetição, levam ao desenvolvimento de condições como a síndrome de Down, em que o cromossomo 21 tem três cópias, mais comum em filhos de pais mais velhos.

Porém, os embriões com anormalidades cromossômicas tendem a abortar espontaneamente em boa parte dos casos.

Alterações uterinas: alterações uterinas, congênitas ou provocadas por condições como miomas uterinos, endometriose e pólipos endometriais, estão entre as principais causas sugeridas de aborto de repetição. Elas podem interferir na vascularização do endométrio, resultando em falhas na implantação do embrião e, consequentemente, em abortamento.

Distúrbios hormonais: desequilíbrios na produção de hormônios importantes para o processo reprodutivo, como o estradiol, a progesterona e os da tireoide, resultam em perda de gravidez.

Entre as condições caracterizadas por distúrbios hormonais estão o hipotireoidismo, em que a produção de hormônios tireoidianos diminui ou é interrompida, e a deficiência na fase lútea, caracterizada pela diminuição da produção de progesterona, fundamental para a preparação final do endométrio e formação da placenta.

Já o desequilíbrio nos níveis de estrogênio impacta diretamente a receptividade endometrial, uma vez que o hormônio é responsável pelo espessamento do endométrio a cada mês, preparando-o para abrigar e nutrir o embrião até que a placenta seja formada.

Problemas de coagulação: mulheres com trombofilia, principalmente a hereditária, condição em que há maior predisposição para a formação de trombos (coágulos), também podem ter abortos de repetição, pois o problema pode afetar a vasculatura placentária.

Inflamações: inflamações no endométrio, que comumente resultam de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), como clamídia e gonorreia, tendem a causar alterações na receptividade endometrial, resultando em falhas de implantação do embrião e abortamentos recorrentes.

Doenças autoimunes: doenças autoimunes como o lúpus e a tireoide de Hashimoto, quando não são tratadas, podem levar ao abortamento.

Hábitos como alcoolismo, tabagismo e uso de drogas são ainda apontados como fatores de risco.

Apesar de o aborto de repetição ser um dos critérios que definem a infertilidade feminina, com o diagnóstico e tratamento da causa identificada, as chances de a gravidez ser bem-sucedida são bastante expressivas.

Como o aborto de repetição é diagnosticado?

Exames laboratoriais e de imagem são realizados para diagnosticar o que causou o aborto de repetição:

Exames laboratoriais

Testes hormonais: têm como propósito avaliar os níveis dos hormônios envolvidos no processo reprodutivo;

Exames de sangue: confirmam a presença de inflamações e possibilitam a detecção da bactéria que provocou o problema;

Testes sorológicos: são indicados quando há suspeita de a inflamação ser causada por agentes sexualmente transmissíveis;

Investigação para trombofilia: mulheres com histórico pessoal ou familiar de trombose também devem fazer a investigação de trombofilia.

Exames de imagem

Exames de imagem proporcionam a detecção de condições que podem causar alterações uterinas, provocando o aborto de repetição. Os mais comumente realizados são:

Ultrassonografia transvaginal: possibilita a confirmação clínica da gravidez e a identificação de pólipos endometriais e miomas uterinos;

A histerossonografia: uma variação da ultrassonografia que utiliza soro fisiológico para expandir a cavidade uterina, permitindo melhor visualização e a identificação de miomas submucosos e intramurais;

Ressonância magnética (RM) e a videohisteroscopia: proporcionam uma análise detalhada da cavidade uterina e dos órgãos sexuais, identificando, dessa forma, diferentes tipos de miomas, endometriose, pólipos endometriais, ou outras condições que possam causar alterações uterinas, como aderências provocadas por inflamações e cirurgias.

O tratamento mais adequado para cada caso é definido a partir dos resultados diagnósticos.

Como o aborto de repetição é tratado?

Diferentes abordagens terapêuticas são indicadas para o tratamento de aborto de repetição.

Anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) são prescritos para aliviar os sintomas provocados por inflamações, assim como antibióticos, quando são causadas por bactérias, prescritos de acordo com cada tipo. Nesse caso, o tratamento precisa ser feito também no parceiro quando se houver risco de ISTs.

Se houver alterações nos níveis hormonais, a terapia hormonal é indicada para equilibrar os níveis, assim como para a redução de pólipos endometriais e miomas uterinos.

Para mulheres com trombofilia, são prescritos anticoagulantes para prevenir a formação de coágulos durante a gestação ou aspirina em baixas doses antes e durante o período gestacional.

A abordagem cirúrgica é indicada quando há necessidade de remoção de miomas, pólipos, endometriose e aderências que provocam anormalidades uterinas ou para correções congênitas.

Quando o aborto de repetição é causado por anormalidades cromossômicas ou se não houver sucesso nos tratamentos anteriores, é indicado o tratamento por fertilização in vitro (FIV).

A FIV possibilita a indicação de técnicas complementares que podem resolver problemas que causam falhas na implantação e abortos de repetição:

Teste genético pré-implantacional (PGT): a partir da análise das células embrionárias, o PGT possibilita a detecção de distúrbios genéticos e cromossômicos, garantindo a transferência para o útero apenas dos embriões saudáveis;

Teste ERA: o ERA analisa os genes envolvidos no ciclo endometrial, indicando com precisão o período de melhor receptividade endometrial para a transferência do embrião;

Hatching assistido: o hatching assistido prevê a criação de aberturas na zona pelúcida com laser, facilitando a ruptura pelo embrião. Zona pelúcida é a película que envolve o embrião desde a fecundação (já está presente no óvulo) para evitar que o material genético em seu interior disperse pelo organismo feminino.

Além das técnicas complementares, a FIV é considerada a principal técnica de reprodução assistida e a que possui os percentuais mais altos de gravidez bem-sucedida por ciclo de realização.

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