Engravidar nem sempre é um processo fácil e rápido, mesmo para casais sem qualquer diagnóstico que indique um quadro de infertilidade conjugal.
Isso acontece porque os processos que envolvem a gravidez são complexos e dependem da interação entre diversas variáveis, especialmente entre as etapas de produção de células reprodutivas e nidação.
Embora todas as etapas da gestação sejam fundamentais para que o casal consiga engravidar, a nidação ou implantação embrionária é uma das mais importantes e, por isso, marca o início da gravidez propriamente dita.
Diferente do que muitos pensam, os problemas que podem prejudicar os processos da nidação ou implantação embrionária não estão restritos às doenças que afetam o aparelho reprodutivo feminino, mas podem também estar relacionadas à qualidade dos espermatozoides.
Continue a ler este texto e entenda melhor a importância dessa etapa para a fertilidade de homens e mulheres, inclusive nos tratamentos com a reprodução assistida.
No corpo feminino, todas as células reprodutivas são formadas ainda antes do nascimento e permanecem envolvidas pelos folículos, armazenados nos ovários, durante toda a infância e a vida reprodutiva da mulher até a menopausa.
Após a puberdade, um número específico de folículos é recrutado para participar da ovulação, a cada ciclo reprodutivo. Entre eles, apenas um, o folículo dominante, consegue chegar ao auge do crescimento e, ao romper-se, libera um óvulo maduro em direção às tubas em que pode ser fecundado.
Durante esse processo, a dinâmica dos hormônios sexuais também prepara o útero, mais especificamente o endométrio, camada de revestimento interno, para receber um possível embrião. O preparo endometrial envolve o espessamento e a complexificação da rede vascular desse tecido.
O óvulo permanece nas tubas por aproximadamente 24h e se o casal mantém relações sexuais sem o uso de preservativos no período próximo à ovulação, as chances de engravidar são mais altas.
Após a ejaculação, os espermatozoides seguem em direção às tubas e passam a disputar a entrada no interior do óvulo. Um deles consegue penetrar a zona pelúcida, um envoltório externo do óvulo com a função de impedir que mais de um espermatozoide participe da fecundação.
Quando a fecundação acontece, a cabeça do espermatozoide se desfaz no interior do óvulo, liberando o DNA espermático, para que encontre o DNA do óvulo, formando a primeira célula do futuro bebê (zigoto) com DNA completo herdado do pai e da mãe.
Esses eventos acontecem normalmente no interior das tubas uterinas, que após a formação do zigoto auxilia no transporte do embrião para o útero.
Durante o trajeto ao longo das tubas uterinas, o zigoto entra em processo de clivagem, divisões celulares que conservam a quantidade de DNA nas novas células formadas, aumentando de tamanho ainda envolto pela zona pelúcida herdada do óvulo.
O desenvolvimento embrionário inicial é dividido em fases, de acordo com as transformações na organização das células formadas pelas clivagens. A mórula é a primeira etapa desse processo e nessa fase o embrião é semelhante a uma amora, com todas as células unidas em um bloco maciço.
Normalmente, ao chegar ao útero, o embrião já atingiu o estágio de blastocisto, quando acontecem as primeiras diferenciações celulares. As células que formam o embrião alocam-se em um polo da zona pelúcida, enquanto as células que originam os anexos embrionários, placenta, líquido amniótico e cordão umbilical, se posicionam no polo oposto.
Quando o blastocisto encontra o endométrio, a comunicação bioquímica entre essas estruturas guia o embrião em busca do lugar mais adequado para realizar a nidação, também chamada implantação embrionária.
Nesse momento, a zona pelúcida se rompe (hatching), permitindo que as células embrionárias se infiltrem no tecido endometrial, fixando-se ao útero e iniciando a gestação propriamente dita.
A nidação ou implantação embrionário é, como mencionamos, o marco inicial da gravidez e, por isso, acontece tanto nas gestações naturais como nos tratamentos com a reprodução assistida.
Embora as técnicas de reprodução assistida ofereçam graus diferentes de controle sobre os processos da gravidez a nidação é uma etapa sobre a qual têm pouca capacidade de intervir.
Nas técnicas de baixa complexidade, RSP (relação sexual programada) e IA (inseminação artificial), a nidação não pode ser controlada porque essas metodologias, embora diferentes uma da outra, contam com a fecundação nas tubas uterinas e a migração natural do embrião para o útero.
Na FIV (fertilização in vitro), que consegue reproduzir a fecundação em laboratório, é possível acompanhar o desenvolvimento embrionário inicial e os embriões selecionados são depositados diretamente no útero, que deve estar adequadamente preparado.
A possibilidade de manipulação dos embriões permite que uma pequena fissura seja aberta na zona pelúcida antes da transferência embrionária, o que chamamos assisted hatching para ajudar no rompimento dessa película.
O assisted hatching, contudo, não garante que a nidação aconteça, apenas diminui as chances de falha na implantação embrionária, melhorando as taxas de gestação da FIV em pacientes selecionadas.
A FIV é uma técnica complexa, que atualmente atende às mais diversas demandas reprodutivas. Toque neste link para conhecê-la melhor.
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