A fertilidade das mulheres depende de alguns fatores fundamentais e a receptividade endometrial – processo pelo qual o endométrio, camada de revestimento da cavidade uterina, torna-se pronto para receber um possível embrião – é um deles.
Todos os eventos do ciclo reprodutivo são coordenados por uma dinâmica hormonal específica, que é resultado da interação entre o sistema nervoso central e o sistema reprodutivo. Sob a ação das gonadotrofinas hipofisárias, os ovários produzem estrogênio, que induz o espessamento do endométrio e participa também da ovulação.
Após a ovulação, as células foliculares resquiciais permanecem no útero e produzem progesterona, que também atua no útero, equilibrando a ação estrogênica sobre o endométrio e completando o preparo endometrial.
Quando esse processo ocorre normalmente o endométrio torna-se apto para receber o embrião. Contudo, se o preparo endometrial não for adequado, mesmo que a fecundação seja bem-sucedida, a mulher pode perder a gestação por falhas na implantação.
Acompanhe a leitura do texto a seguir e entenda melhor como isso acontece.
Apesar de a fecundação acontecer no interior das tubas uterinas, com a união entre óvulo e espermatozoide, a gestação só começa quando o embrião consegue fixar-se no endométrio, processo chamado implantação embrionária, nidação ou simplesmente fixação, que ocorre de 5 a 7 dias após a fecundação.
Para entender melhor em que contexto a implantação embrionária acontece, vamos observar mais de perto cada acontecimento envolvido na gestação.
São chamados gametas as células reprodutivas de homens e mulheres, respectivamente espermatozoides e óvulos. Enquanto os espermatozoides são produzidos nos testículos de forma contínua após a puberdade, os folículos, que contém os óvulos, são armazenados nos ovários durante o período pré-natal e amadurecem de forma cíclica entre a puberdade e a menopausa.
A fecundação ocorre por vias naturais quando as relações sexuais acontecem durante o período fértil da mulher, sem o uso de preservativos de barreira ou outros métodos contraceptivos.
Durante a ovulação o óvulo é liberado em direção às tubas uterinas onde permanece disponível para fecundação por cerca de 24h. Após a ejaculação, os espermatozoides precisam atravessar o canal vaginal, o colo do útero e boa parte desse órgão, até atingirem as tubas uterinas para encontrar o óvulo.
Apenas um espermatozoide consegue penetrar no óvulo, ocasionando a fusão dos pronúcleos, formando o núcleo da primeira célula do futuro embrião: o zigoto. Esta célula dá início a sucessivos processos de multiplicação e divisão celular, que aumentam a quantidade de células do zigoto, compondo o embrião.
Aproximadamente no 3º dia de divisão celular, o embrião atinge o estágio de mórula, com as células aderidas umas às outras, de aparência semelhante à uma amora. O embrião é conduzido pelas tubas ao interior da cavidade uterina, onde deve buscar o local mais adequado para realizar a implantação embrionária.
Quando chega ao útero, atinge o estágio de blastocisto, em que já se observa a polarização das células do embrião, que se separam das responsáveis por formar os anexos embrionários – placenta, cordão umbilical e líquido amniótico –, embora todo o conjunto celular ainda esteja abrigado pela zona pelúcida.
Nesse momento a zona pelúcida se rompe, processo chamado hatching: as células embrionárias e dos anexos se infiltram no endométrio, fixando o embrião no tecido, iniciando a gestação.
As falhas na implantação embrionária acontecem quando, mesmo após uma fecundação normal e a chegada ao útero, o embrião não consegue realizar o processo completo de nidação e fixar-se no endométrio, impedindo o início da gestação.
Quando a mulher está tentando engravidar por vias naturais, é comum que as perdas gestacionais consequentes de falhas na implantação embrionária não sejam notadas, e o insucesso geralmente tende a ser atribuído às dificuldades na fecundação.
Em outros casos, a gestação tem início, mas a mulher perde o bebê de forma precoce e recorrente, demonstrando um quadro de abortamento de repetição.
Se a mulher está em tratamento por técnicas de reprodução assistida, as falhas de implantação podem ser mais bem relatadas, já que todo o processo reprodutivo está sendo acompanhado e monitorado por ultrassonografia transvaginal.
As principais causas de falhas no processo de implantação são:
Mulheres com mais de 35 anos ou que estejam próximas à menopausa, têm mais chance de gerar embriões com erros genéticos que inviabilizam a gestação e o próprio desenvolvimento embrionário e fetal.
As alterações no número de cromossomos estão entre as principais causas de falhas na implantação e gestações inviáveis. Normalmente são resultado do envelhecimento ou de erros durante a divisão celular no processo de formação dos gametas, óvulos e espermatozoides (gametogênese), ou do embrião.
A espessura da zona pelúcida, que envolve inicialmente o óvulo e permanece mantendo as células embrionárias unidas até a implantação, também é influenciada pela idade da mulher, tornando-se mais densa com o envelhecimento.
Nesses casos, a falha na implantação acontece porque o embrião não consegue realizar o hatching, ou seja, romper a zona pelúcida para implantar no endométrio e dar início à gestação.
As falhas de implantação embrionária que resultam de problemas na interação entre o endométrio e o embrião podem estar também relacionadas a alterações imunológicas: as células de defesa do organismo feminino rejeitam o embrião por reconhecê-lo como um corpo estranho, levando ao abortamento espontâneo.
As perdas gestacionais por falhas na implantação embrionária decorrentes de problemas com a receptividade endometrial, normalmente estão relacionadas a doenças e condições que provocam alterações metabólicas e endócrinas.
Doenças como miomas uterinos, pólipos endometriais, endometriose e adenomiose, ou que afetam a integridade do endométrio, como a endometrite, comprometem a composição celular e bioquímica , dificultando a fixação do embrião e aumentando as chances de perda gestacional precoce.
Algumas doenças, entre as mencionadas anteriormente, têm tratamentos primários, medicamentosos e cirúrgicos, que em muitos casos conseguem restaurar a fertilidade da mulher.
Contudo, quando mesmo após os tratamentos a mulher continua encontrando dificuldade para engravidar, ou se as falhas de implantação já se manifestam durante os tratamentos com reprodução assistida, as abordagens devem ser repensadas.
A FIV (fertilização in vitro) é a técnica mais indicada para os casos de infertilidade feminina por falhas na implantação embrionária, principalmente porque permite o hatching assistido e a criopreservação dos embriões, para que a transferência seja feita somente com o útero adequadamente preparado.
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