Engravidar é um projeto que compõe o planejamento familiar de muitas mulheres, porém cada vez mais o momento de realização deste projeto tem sido adiado. Vivendo numa sociedade mais dinâmica e também mais inclusiva, as mulheres hoje se preocupam mais com a construção de suas carreiras, estabilidade financeira e a realização de outras vivências, como viagens, antes de serem mães.
No entanto, o tempo pode ser um inimigo da fertilidade feminina, já que o período reprodutivo das mulheres termina aproximadamente entre a 4ª e a 5ª décadas de vida, com a menopausa.
Por isso, a atual tendência para o adiamento da maternidade deve-se, também, ao desenvolvimento da medicina reprodutiva, que hoje permite às mulheres a preservação social da fertilidade, com o congelamento de óvulos, para serem fecundados no momento mais adequado.
Apenas a FIV (fertilização in vitro) permite a preservação social da fertilidade, já que após a coleta dos folículos, a única forma de realizar a fecundação é em ambiente laboratorial, com posterior transferência dos embriões para o útero da mulher.
A coleta de óvulos para a preservação social da fertilidade deve ser realizada a partir das primeiras etapas da FIV: estimulação ovariana e coleta por punção ovariana.
A partir desse momento, ao invés de dar continuidade ao procedimento com a fecundação, cultivo embrionário e transferência, os folículos coletados são vitrificados e armazenados.
A preservação social da fertilidade é uma técnica que pode ser utilizada por homens e mulheres, no entanto, como o período reprodutivo masculino não tem um tempo de duração tão curto, na maior parte das vezes são as mulheres que recorrem a esta ferramenta.
Este texto explica melhor como é a técnica que permite a preservação social da fertilidade e, com isso, uma melhor adequação do planejamento familiar da mulher.
A preservação social da fertilidade realiza-se a partir do congelamento dos óvulos de mulheres em idade reprodutiva, que desejam adiar a maternidade sem, com isso, ter riscos aumentados de não conseguir engravidar ou ter abortos devido à diminuição da quantidade e qualidade dos óvulos com o avançar da idade.
A preservação social da fertilidade pode ser indicada para qualquer mulher, considerando que o prognóstico é mais favorável para mulheres com boa reserva ovariana, que obterão uma boa quantidade e qualidade dos óvulos, sem que obrigatoriamente existam diagnósticos prévios de infertilidade, ou para a herança de doenças genéticas, embora a própria opção de congelar os óvulos abra espaço para procedimentos preventivos em relação a essas duas possibilidades, por estar atrelada à FIV.
Aquelas mulheres que já planejam engravidar após os 38 anos, seja por motivos profissionais, seja por motivos pessoais, o ideal seria fazer o congelamento dos óvulos até os 35 anos, já que após essa idade a reserva ovariana começa a entrar em um processo de declínio mais acelerado.
No entanto, não existe contraindicação quanto à idade em que a mulher pode realizar a preservação social da fertilidade.
Para realizar a preservação social da fertilidade a mulher deve dar início a um tratamento que inclui apenas as primeiras etapas da FIV, como mencionamos, estimulação ovariana e a aspiração folicular por punção.
A estimulação ovariana é uma etapa compartilhada por todas as técnicas de reprodução assistida, além da FIV, de forma mais intensa, – RSP (relação sexual programada) e IA (inseminação artificial) –, e consiste em potencializar o ciclo reprodutivo, com administração exógena de gonadotrofinas.
Esta etapa deve ter início entre 2 e 4 dias do ciclo reprodutivo, a partir do qual a mulher recebe doses diárias de FSH (hormônio folículo-estimulante) e LH (hormônio luteinizante), que atuam induzindo o recrutamento e crescimento dos folículos ovarianos.
A estimulação ovariana deve ser monitorada por ultrassonografia transvaginal, que acompanha todo o processo, permitindo a avaliação do crescimento dos folículos, e do melhor momento para realizar a aspiração folicular.
A aspiração dos folículos ovarianos é feita por punção ovariana, com auxílio da ultrassonografia transvaginal. As imagens são obtidas em tempo real e uma agulha específica é acoplada a um cateter, que será introduzido no canal vaginal e a aspiração se dará com auxílio de uma bomba de aspiração disposta na outra extremidade do sistema.
Os folículos antrais serão então visualizados, no monitor ligado ao ultrassom, e aspirados de forma precisa, para que este procedimento não lesione o tecido ovariano.
Para os casos em que essas etapas têm como objetivo realizar a preservação social da fertilidade, a partir da aspiração folicular, os óvulos maduros são encaminhados para o congelamento, realizado hoje por vitrificação, podendo permanecer preservados por tempo indeterminado.
Quando a mulher decide engravidar, após a preservação social da fertilidade, deve procurar a equipe médica, que realizou os procedimentos para o congelamento dos óvulos, e então dar continuidade ao tratamento com a FIV.
Antes de realizar o descongelamento dos óvulos, a mulher deve passar pelo processo de preparação endometrial, seja num ciclo natural, seja num ciclo medicado, com a administração de doses de estrogênio e progesterona.
Quando o endométrio se mostra perfeitamente preparado, com uma boa espessura evidenciada na ultrassom e com padrão trilaminar, será marcada a coleta do sêmen e no mesmo dia os óvulos serão descongelados. Nos casos em que a mulher opta por uma gestação independente, os gametas masculinos devem ser oriundos de doação – e serão descongelados também neste momento.
A vitrificação é considerada a técnica mais bem-sucedida, atualmente, para o congelamento dos óvulos, sêmen e outros materiais biológicos, pois oferece maior prevenção à formação de cristais no interior das células congeladas e, com isso, aumenta a taxa de sobrevivência dessas células.
Por isso, a realização da fecundação a partir de gametas congelados não interfere nas taxas de sucesso gerais da FIV.
Após o descongelamento, a fecundação é então realizada em ambiente laboratorial, e os embriões obtidos permanecem em fase de cultivo durante 3 a 5 dias, quando seu desenvolvimento e integridade serão avaliados.
A transferência embrionária é realizada após esse período, e aproximadamente 14 dias depois a mulher pode realizar o teste de gravidez.
Entenda melhor o que é preservação social da fertilidade tocando aqui!
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