O desenvolvimento dos órgãos e estruturas das quais a capacidade reprodutiva da mulher depende acontece, em sua maior parte, ainda no período embrionário, incluindo a formação do útero – que é finalizada por volta da 10ª semana de gestação.
A formação do útero é um dos eventos dos processos de diferenciação sexual dos embriões masculinos e femininos.
Ambos compartilham os ductos de Müller, duas estruturas tubulares e paralelas que se fundem parcialmente no embrião feminino para formar útero e tubas uterinas, e permanecem independentes no embrião masculino, formando os ductos do cordão espermático.
O útero unicorno é uma malformação uterina normalmente envolvida em uma redução da fertilidade feminina e que resulta de problemas e falhas justamente nestas etapas da formação embrionária do útero.
Com este texto você vai entender melhor o que é o útero unicorno, inclusive no contexto das demais malformações uterinas, suas consequências para fertilidade e as possibilidades terapêuticas para lidar com a infertilidade, nesses casos.
Boa leitura!
A formação do útero e das tubas uterinas, como comentamos inicialmente, estão diretamente interligadas e ambas têm origem na fusão parcial e lateral dos ductos de Müller. Esse evento é disparado na ausência do hormônio antimülleriano, produzido somente pelos embriões do sexo masculino.
No momento da fusão, apenas os trechos inferiores dos ductos de Müller se aproximam e fundem suas paredes laterais, criando um único compartimento, que futuramente será o útero. As paredes laterais formam um septo inicialmente, que é reabsorvido e desaparece antes mesmo que a formação embrionária do útero se complete.
As duas extremidades superiores dos ductos de Müller permanecem independentes entre si, mas conectadas ao trecho fundido. As tubas ligam o útero aos ovários, que também estão se formando no período embrionário, com a migração das células germinativas e a estruturação da reserva ovariana.
As malformações uterinas – como o útero unicorno – são condições que resultam de problemas ou falhas nas diferentes etapas do processo de fusão dos ductos de Müller. As malformações uterinas podem estar associadas à dificuldade para engravidar, embora normalmente não provoquem outros sintomas relevantes.
Não se sabe ao certo o que provoca as falhas no processo de estruturação do útero e das tubas, já que não há predisposição genética para a ocorrência de malformações uterinas, tampouco a participação de agentes externos (microbianos) nessas falhas.
É importante lembrar que, embora a formação do útero e das tubas uterinas sejam processos associados, nem sempre as alterações na anatomia do útero interferem na integridade das tubas.
As principais malformações uterinas estão listadas a seguir:
Cada tipo de malformação é resultado de problemas em etapas específicas da formação do útero.
Nos casos de útero septado, a fusão lateral dos ductos de Müller acontece normalmente, porém a reabsorção do septo, que deveria acontecer assim que a fusão ocorre, é falha e o septo permanece na estrutura uterina final.
Apesar da presença do septo, o formato total do útero septado não se altera – diferente do que observamos no útero bicorno, em que as falhas ocorrem pouco antes da formação do septo, nos momentos finais da fusão dos ductos de Müller. A fusão é menor do que deveria ser e o útero adquire um formato diferente, semelhante à um coração.
O útero didelfo – que também é chamado útero duplo –, por sua vez, tem origem em falhas já no início da fusão. Nessa malformação, os ductos de Müller se aproximam, mas suas paredes não se fundem, permanecendo somente aderidas lateralmente e formando duas cavidades uterinas, frequentemente com colo do útero e parte do canal vaginal também duplicados.
Considerada uma forma relativamente rara, se comparada às demais malformações uterinas mencionadas, o útero unicorno acontece quando apenas um dos ductos de Müller se desenvolve completamente, até o momento em que a fusão das paredes laterais dos ductos deveria acontecer.
No útero unicorno os exames de imagem mostram uma cavidade uterina menor do que o esperado e conectada a apenas um dos ovários, pela única tuba uterina plenamente desenvolvida.
É possível que a mulher com útero unicorno também apresente a outra tuba uterina, porém subdesenvolvida e por isso não funcional – que pode ser inclusive removida cirurgicamente, já que sua presença aumenta as chances de gestação ectópica.
O diagnóstico do útero unicorno é feito exclusivamente por exames de imagem, como ultrassonografia pélvica transvaginal, histerossalpingografia e ressonância magnética.
A infertilidade pode ser o único sintoma apresentado pela mulher com útero unicorno, já que a condição não está associada a outras alterações perceptíveis. Nesse sentido, é comum que a mulher somente tome conhecimento de sua condição nos exames de rotina e quando encontra dificuldade para engravidar e manter a gestação até o parto.
O útero unicorno prejudica a capacidade reprodutiva das mulheres por dois motivos principais: a redução dos ciclos ovulatórios que podem efetivamente resultar em fecundação e a diminuição do espaço interno para desenvolvimento do bebê e para os movimentos necessários para seu encaixe pré-parto.
A formação do útero unicorno não está necessariamente associada a qualquer alteração ovariana, contudo a ausência de uma das tubas uterinas diminui a quantidade de ciclos reprodutivos efetivamente férteis.
Mesmo apresentando os dois ovários saudáveis, na mulher com útero unicorno apenas um dos ovários pode liberar óvulos que realmente têm chance de participar da fecundação, pelo contato com a única tuba uterina funcional.
Este é um aspecto que diminui a fertilidade, mas não impede que a fecundação aconteça. A mulher com útero unicorno que engravida, no entanto, deve ser abordada como uma gravidez de risco com chances de parto prematuro e aborto espontâneo. Nesses casos, a mulher com útero unicorno precisa de um acompanhamento pré-natal mais minucioso.
Não existe um tratamento específico para o útero unicorno e, como a infertilidade é a única consequência dessa condição, a reprodução assistida costuma ser indicada para mulheres que não conseguem ter filhos em decorrência dessa malformação uterina.
A FIV (fertilização in vitro) é hoje a única técnica que permite que o embrião formado em laboratório pela fecundação dos gametas dos pais, seja gestado no útero de outra mulher – o que chamamos cessão temporária de útero ou útero de substituição. A mulher que aceita passar pela gestação deve ter pelo menos um filho vivo e ter parentesco de até quarto grau com um dos membros do casal e no máximo 50 anos de idade.
As condições necessárias para o útero de substituição – e para qualquer procedimento em reprodução assistida no Brasil, na realidade – é o Conselho Federal de Medicina (CFM).
O útero unicorno não é a única condição associada à infertilidade feminina. Quer entender melhor o que pode dificultar e até mesmo impedir o sonho de ter filhos? Então toque neste link e leia mais.
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