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Útero bicorno e infertilidade: qual a relação?

Útero bicorno e infertilidade: qual a relação?

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A integridade dos ovários, das tubas uterinas e do útero, é fundamental para a fertilidade feminina, mas o fato dessas estruturas desempenharem papéis diferentes nos processos da reprodução faz com que suas alterações reflitam consequências também diversas.

O útero é um órgão que participa do ciclo reprodutivo, com ou sem fecundação, quando sofre modificações celulares que o preparam para receber um possível embrião. Se a fecundação não acontece, é a descamação do endométrio, revestimento interno da cavidade uterina ‒ que produz o sangue menstrual.

Se há fecundação, o útero passa a ser central também para todo o período gestacional, já que o desenvolvimento do embrião e, posteriormente, do feto acontecem nesse órgão, da nidação ao parto.

Nesse sentido, as alterações fisiológicas e anatômicas do útero, como o útero bicorno, comumente podem resultar em quadros de infertilidade feminina, por oferecer riscos a diversas etapas da gravidez, como veremos no texto a seguir. Boa leitura!

O útero é formado antes do nascimento da mulher

O sexo biológico dos embriões é determinado pela combinação dos cromossomos sexuais, herdados de pai e mãe na fecundação, mas a diferenciação da anatomia dos aparelho reprodutores femininos e masculinos acontece somente nas primeiras semanas de desenvolvimento.

Embriões masculinos (XY) e femininos (XX) compartilham, no início de seu desenvolvimento, algumas estruturas indiferenciadas, como os ductos de Müller: um par de ductos que permanece posicionado paralelamente até a 9ª semana do desenvolvimento embrionário.

Aproximadamente na 10ª semana de gestação, a fusão parcial dos ductos de Müller acontece no embrião feminino (XX), formando o útero e as tubas uterinas, enquanto no embrião masculino (XY) a produção do hormônio antimülleriano impede essa fusão e os ductos de Müller permanecem paralelos, formando parte do cordão espermático.

Como a fusão dos ductos de Müller nos embriões femininos é parcial, o trecho inferior desses ductos funde-se formando o útero, e os superiores, que permanecem separados, formam as tubas uterinas.

Problemas na formação anatômica do útero

A maior parte das malformações anatômicas do útero é congênita e resulta de falhas no processo de fusão parcial dos ductos de Müller durante o desenvolvimento embrionário. Essas falhas variam entre fusões mais, ou menos, completas.

De forma geral, problemas anatômicos do útero são divididos em:

No útero septado, há um grau menor de falha na fusão dos ductos de Müller, que resulta na presença de um septo, como uma membrana que se projeta para o interior da cavidade uterina.

Quando a fusão dos ductos de Müller é praticamente incompleta, útero didelfo e útero bicorno, o órgão pode se mostrar dividido ou duplicado.

Se a fusão é completa, como nos casos de útero unicorno, observa-se a formação de apenas uma das tubas uterinas, como se essa estrutura única fosse um prolongamento do útero.

Útero bicorno

Enquanto no útero septado observamos um prolongamento das camadas mais próximas à superfície da parede uterina, formando o septo, no útero bicorno a mulher apresenta um invaginação de todas as camadas da parede uterina, fazendo com que o órgão se mostre deformado, adquirindo um formato semelhante ao de coração.

Se a falha na fusão é ainda mais severa, a mulher pode apresentar também o colo do útero duplicado, aspecto que diferencia o útero bicorno do útero didelfo.

A maior parte dos casos de útero bicorno não produz sintomas perceptíveis e é comum que a mulher tome conhecimento de sua condição nos exames de rotina. O diagnóstico do útero bicorno é feito majoritariamente por exames de imagem, como a histerossalpingografia e a ultrassonografia transvaginal.

Em alguns casos, a mulher com útero bicorno pode apresentar sintomas como ovulação acompanhada de desconforto, dor abdominal, dispareunia (dor durante a relação sexual) e alterações no ciclo menstrual.

Útero bicorno e infertilidade

Para compreender a relação entre a condição de útero bicorno e a infertilidade feminina, é importante lembrar que o conceito de infertilidade não engloba somente a dificuldade para conseguir uma gestação, mas também a capacidade de chegar ao parto e passar por ele sem maiores intercorrências.

Nos casos de útero bicorno, a invaginação da parede uterina pode acontecer em diversos graus, provocando problemas que variam desde a diminuição no espaço para o desenvolvimento do feto, o que demanda acompanhamento especial e pode afetar o desenvolvimento embrionário e fetal, até a duplicação completa do útero, que pode provocar perda gestacional e aborto de repetição.

Entre as principais consequências do útero bicorno para a fertilidade feminina, destacamos também a possibilidade de o trabalho de parto ter início antes do tempo previsto, com rompimento prematuro da placenta, o que pode oferecer riscos à mulher e ao bebê durante o parto.

Além disso, a deformação uterina pode dificultar a saída da placenta, após o parto, aumentando os riscos de hemorragia e da contaminação do útero, que se mostra mais vulnerável após o parto.

É possível ter filhos com útero bicorno?

Em geral, a mulher com útero bicorno consegue engravidar sem grandes problemas, embora nos casos mais graves, mesmo o início da gestação pode ser comprometido.

A mulher que engravida já sabendo do diagnóstico de útero bicorno, precisa passar por um pré-natal especial, com um acompanhamento mais rigoroso do desenvolvimento embrionário e fetal para prevenir complicações.

Quando a mulher com útero bicorno não apresenta sintomas além da infertilidade, a condição normalmente não demanda tratamento, apenas o acompanhamento pré-natal. Contudo, os casos mais graves podem ser abordados cirurgicamente, para a correção das falhas que levaram à duplicação do útero.

A reprodução assistida também é uma possibilidade para a mulher que não consegue manter uma gestação devido a deformações uterinas. Nesses casos, a técnica mais indicada é a FIV (fertilização in vitro) com cessão temporária de útero, quando embriões formados com as células reprodutivas dos pais são transferidos ao útero de outra mulher, parente de até quarto grau dos pacientes em tratamento.

A infertilidade feminina pode ter, ainda, diversas causas além das malformações uterinas. Toque neste link e conheça as principais!

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