Ainda que muito se fale das diferentes etapas da gestação, a fase de formação do zigoto – e mesmo o uso deste termo – estão entre os assuntos menos comentados, a respeito do tema.
Outros eventos gestacionais, como a fecundação e a nidação costumam ter mais destaque – embora o processo de formação do zigoto seja um dos momentos mais decisivos no andamento da gestação e da vida do futuro bebê.
De forma geral, podemos dizer que o zigoto é a célula primordial do desenvolvimento humano, primeira estrutura celular completa, formada com a fusão dos gametas masculino e feminino, contendo metade do material genético da mãe pareado com a metade paterna.
Na fecundação por vias naturais, a formação do zigoto deve acontecer no interior das tubas uterinas, quando o casal mantém relações sexuais durante o período fértil da mulher. Já nas técnicas de reprodução assistida, dependendo da complexidade do procedimento, o zigoto pode também ser conseguido com a fecundação em laboratório.
Quer entender melhor o que é o zigoto e qual sua importância para a fertilidade feminina? Então continue conosco na leitura do texto a seguir e aproveite!
Os gametas femininos são formados ainda durante o período embrionário, com o desenvolvimento das células germinativas, e ficam armazenados no córtex dos ovários.
Isso significa que, quando a mulher nasce, toda sua reserva ovariana – ou seja, as células reprodutivas com as quais pode contar por toda sua vida – já nasce pronta com ela, estacionada em um estágio específico de desenvolvimento, que só é retomado com a puberdade.
Embora seja comum se referir aos gametas femininos pelo termo óvulo, a nomenclatura correta é oócito – e essa célula é composta por um pronúcleo contendo metade do DNA da mulher e envolta por uma estrutura multicelular, chamada folículo.
A interação dos gametas com os hormônios do ciclo reprodutivo se dá pelos receptores localizados nas células foliculares, que também nutrem e protegem os oócitos.
Diferente do que ocorre com as mulheres, a produção de espermatozoides começa na puberdade, junto com as transformações físicas da adolescência. Os espermatozoides são produzidos com o desenvolvimento dos espermatócitos, localizados nas paredes dos túbulos seminíferos – que compõem a maior parte dos testículos.
Os espermatozoides, assim como os oócitos, contém um pronúcleo com apenas metade do DNA do homem. Por isso, ambas são denominadas células reprodutivas, ou haploides (n). As células que contém todo o DNA do homem ou da mulher são chamadas somáticas, ou diploides (2n).
A testosterona é o principal hormônio indutor da formação dos espermatozoides, que finalizam seu desenvolvimento nos epidídimos e compõem o sêmen encontrando os líquidos glandulares, nos ductos deferentes.
Enquanto os gametas masculinos são produzidos e ficam disponíveis para fecundação a cada ejaculação, nas mulheres a função reprodutiva é cíclica.
Coordenada por uma cadeia de eventos hormonais que promovem tanto o amadurecimento de ao menos um gameta, como o preparo endometrial, para que o útero possa receber um possível embrião, o ciclo reprodutivo tem a ovulação como momento auge, que determina o período fértil da mulher.
A concepção por vias naturais resulta normalmente de relações sexuais, sem o uso de qualquer tipo de contraceptivo, praticadas durante os dias do período fértil – quando, após a ejaculação, os espermatozoides encontram o oócito disponível, no interior das tubas uterinas.
Ao encontrar o oócito, os espermatozoides disputam a entrada no meio intracelular do gameta feminino buscando romper a zona pelúcida. Quando o primeiro espermatozoide consegue realizar esta tarefa, a zona pelúcida imediatamente bloqueia a entrada de qualquer outro espermatozoide.
Após a entrada do espermatozoide no interior do oócito, a estrutura do gameta masculino se desfaz, o gameta feminino finaliza o processo mitótico estacionado desde o período embrionário, e ambos expõem e fundem seus materiais genéticos.
A fusão dos pronúcleos é o momento mais crucial da fecundação, quando o DNA do futuro bebê é composto pelo pareamento das metades dos DNAs parentais. Esse evento leva à criação de um núcleo verdadeiro, contendo o material genético completo de um ser humano – e compondo o zigoto, primeira célula do desenvolvimento embrionário.
A formação do DNA embrionário acontece com o pareamento dos cromossomos homólogos (semelhantes), sendo um dos cromossomos do par herdado da mãe e o outro, do pai. O resultado final dessa fusão se reflete não somente na semelhança física entre o bebê e seus pais, mas também na herança de características fisiológicas e até mesmo de doenças hereditárias.
Algumas horas após a fecundação, o zigoto dá início às primeiras clivagens – divisões celulares que multiplicam as células, conservando o material genético completo nas células resultantes – e formam as primeiras células indiferenciadas do embrião.
Nos primeiros 5 a 7 dias após a fecundação, o embrião atingiu o estágio de blastocisto e já foi transportado até o interior da cavidade uterina, onde espera-se que a nidação ocorra, dando início à gestação.
Por ser a célula primordial do desenvolvimento humano, o desenvolvimento do zigoto é determinante para a qualidade de todas as demais células do futuro bebê, que descendem em sua completude, do zigoto.
Além das possibilidades de alterações genéticas embrionárias derivadas de mutações anteriores à formação do zigoto – normalmente originadas de problemas na gametogênese –, erros no desenvolvimento das primeiras clivagens desta célula também podem se refletir em problemas genéticos.
O zigoto é também uma estrutura ainda frágil, se comparada a outras etapas do desenvolvimento gestacional, e alterações no ambiente em que as primeiras etapas do desenvolvimento embrionário acontecem, podem desencadear problemas inclusive na receptividade endometrial, provocando aborto espontâneo.
O local e a maneira como o zigoto é formado são alguns dos aspectos que determinam a complexidade das técnicas de reprodução assistida.
As técnicas de baixa complexidade RSP (relação sexual programada) e IA (inseminação artificial), embora diferentes em alguns aspectos fundamentais, são semelhantes quanto ao local da fecundação e formação do zigoto: o interior das tubas uterinas.
Na RSP, o período fértil é potencializado e determinado com precisão pela estimulação ovariana e monitoramento da indução da ovulação, respectivamente. Já na IA, ainda que a mulher também passe por protocolos de estimulação ovariana e indução da ovulação com monitoramento ultrassonográfico semelhantes aos utilizados na RSP, espera-se que a fecundação ocorra quando uma amostra de sêmen é depositada na cavidade uterina, durante o período fértil da mulher.
O que faz da FIV (fertilização in vitro) uma técnica de alta complexidade é principalmente a possibilidade de realizar a fecundação em ambiente laboratorial, totalmente controlado, além de ser a única técnica que permite a observação em tempo real do zigoto e seu desenvolvimento inicial.
Nesse sentido, a aplicação do PGT (teste genético pré-implantacional) pode ser uma importante ferramenta de prevenção da transmissão de doenças hereditárias e também da transferência de blastocistos com alterações genéticas que ocorreram após a formação do zigoto.
Saiba como é a transferência de blastocisto na FIV tocando neste link.
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