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Infertilidade e endometriose: existe relação?

Infertilidade e endometriose: existe relação?

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A endometriose é uma doença complexa, que se manifesta pelo aparecimento de tecido endometrial ectópico, ou seja, fora da cavidade uterina, e pode causar infertilidade feminina.

Como esse tecido é responsivo ao ciclo hormonal da função reprodutiva feminina, os picos de estrogênio que promovem o espessamento do endométrio também disparam processos inflamatórios nos focos endometrióticos ectópicos.

Essa reação pode causar dor pélvica, dismenorreia, irregularidades menstruais e, dependendo da localização e tamanho dos focos endometrióticos, também infertilidade feminina.

Os sintomas da endometriose, no entanto, são comuns a muitas doenças e síndromes ginecológicas, como a DIP (doença inflamatória pélvica), as endometrites, miomas, entre outras.

Por isso, é importante que a investigação seja feita de forma acurada para que diagnósticos errados não prejudiquem o sucesso do tratamento.

Dependendo do local de infiltração dos focos endometrióticos, alguns processos ligados à função reprodutiva das mulheres – como a ovulação, a criação do ambiente ideal para a fecundação nas tubas uterinas, a condução do embrião para o útero e a implantação embrionária – podem ser prejudicados.

Nesses casos, é comum que a doença provoque infertilidade. A Organização Mundial da Saúde (OMS) define a infertilidade como a não ocorrência de gestação para um casal sexualmente ativo que tenta engravidar durante 12 meses e não consegue.

A endometriose pode levar à infertilidade por anovulação e/ou disovulia, alteração na função das tubas uterinas e perturbação da receptividade endometrial.

Este texto busca aprofundar a relação entre a endometriose e a infertilidade. Boa leitura!

O que é endometriose?

A endometriose é uma doença crônica e estrogênio-dependente, que se caracteriza pelo crescimento ectópico de tecido endometrial. O endométrio é a camada que reveste a cavidade uterina e é composto por células estromáticas e glandulares, que respondem à ação dos estrogênios durante o ciclo menstrual.

Da mesma forma, o endométrio ectópico reage à estimulação do estrogênio, disparando processos inflamatórios nos locais onde os focos endometrióticos estão infiltrados. A classificação dos tipos de endometriose está ligada aos locais em que aparecem esses focos endometrióticos, com sintomas gerais e específicos de cada tipo.

Endometriose peritoneal superficial

O peritônio é a membrana serosa que reveste as paredes da cavidade abdominal e recobre os órgãos abdominais e pélvicos, como o útero, tubas uterinas, bexiga e intestinos. Quando o endométrio surge no peritônio, pode afetar o funcionamento desses órgãos e levar a um quadro inflamatório, no entanto de forma leve, já que aqui as lesões são superficiais.

Endometriose ovariana (endometriomas)

A formação de endometriomas, ou cistos avermelhados nos ovários, é típica da endometriose ovariana. Esse é o tipo de endometriose que mais afeta a fertilidade feminina, já que os cistos prejudicam a reserva ovariana e a maturação folicular, levando à anovulação e/ou disovulia.

Endometriose infiltrativa profunda

A profundidade que os implantes endometrióticos alcançam influencia na intensidade e gravidade dos sintomas da endometriose, e nesses casos os focos endometrióticos apresentam uma profundidade de mais de 5 mm de infiltração. Os locais acometidos são os mesmos que na versão superficial, porém os sintomas podem ser mais severos.

Geralmente, a endometriose é multifocal, e seus focos podem apresentar diferentes níveis de profundidade. Uma mulher que tenha endometriomas provavelmente também terá outros tipos da doença em outras regiões.

Quais os sintomas da endometriose?

Os principais sintomas da endometriose podem aparecer em todos os tipos da doença, e podem ser resumidos em dor antes ou durante a menstruação (dismenorreia), dor durante as relações sexuais (dispareunia) e sangramentos entre as menstruações (metrorragia).

Dependendo do órgão afetado pela endometriose, alguns sintomas específicos também podem ser observados:

Qual a relação entre endometriose e infertilidade?

Dois são os tipos de endometriose mais comumente relacionados à infertilidade: a endometriose ovariana, que provoca a formação dos endometriomas, e quando os focos endometrióticos acometem as tubas uterinas, causando obstruções.

No caso dos endometriomas, os cistos são formados por tecido endometrial ectópico e ao alcançarem dimensões maiores passam a exercer uma pressão sobre o tecido que compõe o ovário. Quanto maior o endometrioma, mais ele pode danificar a reserva ovariana e inviabilizar o crescimento dos folículos, prejudicando a ovulação.

Quando os focos endometrióticos estão localizados nas tubas uterinas, a resposta do endométrio ectópico à ação do estrogênio gera uma reação inflamatória local, que pode obliterar o interior das tubas e obstruir a passagem do óvulo e sua fecundação pelos os espermatozoides, causando infertilidade por fator tubário.

Tratamentos para a endometriose e infertilidade

Atualmente, a endometriose pode ser tratada por via medicamentosa, mais indicada para os casos leves e assintomáticos, ou cirúrgica, quando os focos endometrióticos são profundos e numerosos ou sintomáticos. No entanto, o mais importante a considerar é o desejo da mulher de ter filhos ou não.

Como os sintomas da endometriose mais grave podem ser bastante dolorosos e até mesmo incapacitantes, a cirurgia costuma ser o procedimento mais indicado nessas situações.

O tratamento medicamentoso é feito com anticoncepcionais orais combinados de estrogênio e progesterona ou apenas com progestagênios isolados.

A retirada cirúrgica dos focos endometrióticos, por sua vez, é feita por videolaparoscopia, em que uma microcâmera é inserida através de incisões mínimas, normalmente próximas à virilha, com os instrumentos para a ressecção dos focos. A microcâmera permite o acompanhamento do procedimento em tempo real, pelas imagens observáveis em um monitor.

Reprodução assistida

A reprodução assistida é a principal opção de tratamento para a infertilidade causada pela endometriose, e a escolha da técnica varia de acordo com o tipo e a severidade da doença. Também é importante analisar se não há outros fatores de infertilidade associados.

A FIV (fertilização in vitro) é a técnica mais indicada quando a endometriose afetou a função das tubas uterinas e/ou quando a reserva ovariana está diminuída devido à presença de endometriomas, havendo pressa para engravidar. Por ser de alta complexidade, aumenta as chances de gravidez em praticamente todos os casos diagnosticados de infertilidade, tanto masculina como feminina.

A FIV promove a estimulação ovariana e possibilita a coleta de gametas femininos por aspiração folicular, diretamente dos ovários, contornando a obstrução tubária. A fecundação acontece em ambiente laboratorial e os embriões formados são selecionados e posteriormente transferidos para o útero.

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