Viabilizar a função reprodutiva de homens e mulheres é uma das inúmeras funções que os hormônios ‒ substâncias químicas que funcionam com um sinalizador celular ‒ desempenham no corpo humano. A ação hormonal que orquestra a fertilidade, no entanto, não acontece de forma isolada, mas sim envolvendo todo o metabolismo do corpo.
Nas mulheres, o sistema endócrino participa diretamente da função reprodutiva, que acontece de forma cíclica, mediando a comunicação entre o cérebro e as gônadas, as glândulas sexuais, que no caso das mulheres são os ovários, resultando em outras alterações, como a preparação uterina e a menstruação.
A gestação, outro aspecto da fertilidade feminina além da disponibilização de células reprodutivas, também é coordenada pela ação específica de diversos hormônios. A progesterona, por exemplo, participa tanto do ciclo reprodutivo, como da manutenção da gestação, da concepção ao parto.
Considerada um dos hormônios mais importantes para a fertilidade feminina, a progesterona é produzida pelo corpo lúteo, uma glândula endócrina temporária formada a partir das células do folículo rompido na ovulação, e pelas células embrionárias após a nidação, processo de fixação do embrião no endométrio.
Acompanhe a leitura deste texto e entenda melhor a relação entre a progesterona e a função reprodutiva das mulheres. Boa leitura!
A progesterona é um hormônio da classe dos esteroides, produzido pelo corpo de homens e mulheres, embora nas mulheres a secreção seja expressivamente maior.
Também fazem parte desse grupo, a testosterona e os diversos tipos de estrogênios. Além de uma estrutura química básica em comum, todos esses hormônios, incluindo a progesterona, são derivados diretos ou indiretos do colesterol, molécula precursora de todos os hormônios esteroides.
A progesterona, nas mulheres, é produzida principalmente durante o ciclo reprodutivo, após a ovulação e a formação do corpo lúteo. Quando a mulher engravida, atua na manutenção da gestação, sendo produzida inicialmente pelo corpo lúteo e após o primeiro trimestre, pela placenta.
Outras estruturas, como a adrenal e o fígado, também atuam na secreção e metabolização da progesterona e de outros hormônios esteroides.
Além das funções relacionadas à reprodução, a progesterona, como a maior parte dos hormônios, participa de outras tarefas metabólicas. Nesse caso, sua associação à atividade do sistema nervoso parassimpático ajuda a combater o estresse, na manutenção da qualidade do sono, capacidade de relaxamento e autocontrole emocional, além da fixação do cálcio ósseo.
Ainda que a progesterona tenha papéis variados no organismo feminino, a maior parte da produção desse hormônio é destinada ao controle das funções reprodutivas, sendo por isso considerado um dos principais hormônios do ciclo reprodutivo.
Quando a menstruação acontece, a concentração de progesterona ‒ e estrogênio ‒ é mínima, o que induz à descamação do endométrio (menstruação) e à retomada na produção de GnRH (hormônio liberador de gonadotrofinas) pelo hipotálamo, iniciando um novo ciclo reprodutivo.
Consequentemente, a hipófise também volta a ser estimulada e a secreção de FSH (hormônio folículo-estimulante) e LH (hormônio luteinizante) é retomada gradualmente. Podemos dizer, assim, que uma das funções da progesterona é regular a produção dos hormônios neuronais do ciclo reprodutivo.
A produção gradual de gonadotrofinas atinge os ovários, órgãos alvo desses hormônios, provocando três eventos principais: o recrutamento de folículos ovarianos para retomar seu processo de desenvolvimento e amadurecimento, a produção de testosterona e sua conversão em estrogênio.
Esse processo acontece na primeira fase do ciclo e seu auge é a ovulação, que ocorre após o pico máximo de concentração do estrogênio e gonadotrofinas, aproximadamente na metade do ciclo.
Também durante essa etapa, o estrogênio atua sobre o endométrio, induzindo seu espessamento ao estimular a multiplicação celular desse tecido, como parte do preparo para receber um possível embrião.
Após a ovulação, acontece a formação do corpo lúteo e a produção de progesterona tem início, pelo estímulo do LH sobre a estrutura folicular resquicial. Durante a metade da fase lútea, a progesterona é produzida abundantemente e seu papel pode ser resumido em três funções:
Se a fecundação não ocorrer, a inibição da produção de LH faz o corpo lúteo degenerar, diminuindo gradualmente a de progesterona e estrogênio, o que resulta na menstruação e início do novo ciclo, quando esses hormônios atingem sua concentração mínima.
Quando a fecundação acontece, após a nidação o embrião passa a produzir hCG (gonadotrofina coriônica humana), que mantém o corpo lúteo ativo no início do período gestacional, para garantir a produção de progesterona no primeiro trimestre.
Após o primeiro trimestre, com o desenvolvimento pleno da placenta, a produção de progesterona é assumida por ela.
Considerando que a maior parte da progesterona feminina é produzida pelo corpo lúteo formado após a ovulação, na maioria dos casos a deficiência é resultado de doenças que afetam a ovulação.
Nesse sentido, a SOP (síndrome dos ovários policísticos) é uma das principais doenças que afeta a disponibilidade de progesterona, assim como a endometriose ovariana.
Isso acontece porque tanto a SOP, por problemas na produção de gonadotrofinas, como a endometriose, pela formação dos endometriomas, são doenças que levam a anovulação e sem ovulação não há formação do corpo lúteo, tampouco produção de progesterona, além daquela resultante da atividade adrenal e hepática.
Além da SOP, é comum que as mulheres com doenças estrogênio-dependentes, especialmente pólipos endometriais, apresentem também uma deficiência na expressão da progesterona, principalmente pela redução de receptores para esse hormônio no endométrio.
A diminuição na disponibilidade de progesterona prejudica o preparo endometrial e a manutenção da gestação, especialmente no primeiro trimestre de gravidez, levando a quadros de falhas na nidação e aborto de repetição.
Além dos tratamentos específicos, que agem na causa dessa deficiência de progesterona quando isso é possível, a medicina conta também com as diversas técnicas de reprodução assistida para combater a infertilidade resultante desse quadro.
A escolha da técnica mais adequada depende do diagnóstico por trás da deficiência de progesterona: para os casos em que o quadro é provocado por doenças que levam à anovulação, a RSP (relação sexual programada) e a IA (inseminação artificial) podem ser indicadas.
Contudo, os casos em que a redução da progesterona está relacionada a problemas no preparo endometrial, somente a FIV (fertilização in vitro) pode ser indicada, por ser a única técnica que permite o freeze-all (congelamento dos embriões) para que o preparo endometrial seja feito de forma controlada, com auxílio de medicação hormonal.
Nesses casos, os embriões congelados podem ser transferidos no momento adequado, sem prejuízo para as taxas de sucesso da técnica.
Para entender melhor a relação entre a progesterona e gravidez, toque neste link!
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